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No passado mês de novembro recebi, na Embaixada de Portugal, em Brasília o escritor Carlos Magno de Melo, para o lançamento da sua mais recente obra “Guaibimpará Caramuru – Das areias às estrelas”. Este livro, publicado pela Thesaurus Editora, vem romancear a célebre história do náufrago português Diogo Álvarez Correia e o seu romance com a índia tupinambá Paraguaçu, também chamada Guaibimpará.

Segundo relatos mais ou menos históricos, tendo Diogo sobrevivido ao naufrágio de um navio francês que cruzava os mares da Bahia, próximo da atual cidade de Salvador, deu à costa e foi socorrido pelos Tupinambá que ali habitavam. O cacique daquela tribo, de seu nome Taparica, ter-se-á agradado dos modos do português, a ponto de lhe ter dado uma de suas filhas, Paraguaçu, como esposa.

A data do naufrágio não é certa mas sabe-se que Diogo Álvarez manteve contacto com exploradores franceses e, em 1526, rumou até França, na companhia de Guaibimpará. Esta viria a ser batizada em Saint-Malo, na Bretanha, recebendo o nome cristão de Catarina, possivelmente em homenagem a Catherine des Granches, esposa de Jacques Cartier, que foi a sua madrinha.

Estamos perante a narrativa de uma verdadeira Pocahontas luso-brasileira, sendo que a viagem europeia de Paraguaçu precedeu, em quase um século, a da norte-americana. E por isso merece ser devidamente celebrada a sua memória e divulgada a sua singular história de vida, como exemplo de precoce união entre Portugal e o que viria a ser o Brasil.

Invoco estas figuras históricas porque o nosso passado comum é um aspecto que enaltece esta relação ímpar entre Portugal e o Brasil. Mas, neste ano que passou, temos mais um grande factor a unir-nos como nunca: o futebol!

Ver a bandeira portuguesa a ser agitada, por Jorge Jesus e a sua equipa técnica, nas celebrações da conquista da Taça dos Libertadores pelo Flamengo, façanha que o clube não alcançava há 38 anos, foi motivo de grande regozijo para toda a comunidade portuguesa e lusodescendente no Brasil. Da mesma forma, todos nos alegrámos por Jorge Jesus ter sido homenageado com o título de cidadão honorário da cidade do Rio de Janeiro, depois de ter ganho, também, o “Brasileirão”, o Campeonato Brasileiro de Futebol.

Foram momentos muito fortes e que deixam marca muito positiva, de profundo orgulho, no contexto das relações luso-brasileiras. Sendo de lembrar que a presença portuguesa no futebol brasileiro é antiga e de nomeada: muitos clubes brasileiros são considerados praticamente equipas portuguesas, como os famosos Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, e Portuguesa dos Desportos, de São Paulo, conhecida como Lusa. Além destes, temos também a Portuguesa Santista, de Santos, a Portuguesa de Londrina, a Tuna Luso Brasileira de Belém do Pará e muitos outros clubes e agremiações futebolísticas espalhadas de norte a sul do Brasil.

Posso até lembrar que, nos idos de 1944, a Seleção Brasileira de Futebol já foi treinada por um português, de seu nome Jorge Gomes de Lima, mais conhecido por Joreca.

Não são estes dados irrelevantes ou apenas triviais mas sinais, tão importantes quanto saldos comerciais e afins, da importância e transcendência desta fraternidade transatlântica, que se alimenta do especial dinamismo da vasta Comunidade Portuguesa e luso-brasileira espalhada por todo o Brasil.

É, portanto, neste espírito de verdadeira união que venho desejar a todos, com sincera amizade, um ano de 2020 que nos traga mais sucessos, mais razões para comemorarmos, sempre em conjunto.

 

Jorge Cabral

Embaixador de Portugal no Brasil

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